UM CANDIDATO A PREFEITO EM 107 CIDADES
UM CANDIDATO A PREFEITO EM 107 CIDADES
Na
cidade de Iaçu na Chapada Diamantina, na região do semi árido baiano, o
candidato da oposição à prefeito Maurilo Ramos Sobrinho ( Macarrão )
PSD, teve impugnado o registro de candidatura pela justiça eleitoral e
não poderá concorrer as eleições de 2012, deixando assim o caminho livre
para o candidato Nixon (PMDB) que não contará com adversários.
Entre 15.309 candidatos a prefeito nas eleições de 2012, Fábio Fonseca (PDT) está num miúdo grupo de fazer inveja aos demais. Pode se gabar de contar apenas com o próprio voto. É que se apenas ele digitar seu número na urna, será eleito prefeito de Igaratinga (MG). O motivo é simples: ninguém, além dele mesmo, se lançou ao cargo na cidade de 9,2 mil habitantes. Em igual situação, outros 105 políticos têm a garantia ou o privilégio, este ano, de ganhar por falta de oponentes ou, como se diz no jargão esportivo, no “WO”.
Os
candidatos-solo não terão concorrentes por diferentes motivos. Nomes
da oposição não tiveram apoio do próprio partido, negociaram alianças
em futuras eleições ou cargos no governo, deixaram os preparativos para
a última hora e até pelo simples receio de uma derrota anunciada em
pesquisas.
Sem
poder pedir votos, parte dos opositores aos candidatos únicos adotou
outra estratégia para boicotá-los. Incentivam a população a votar nulo
ou branco, espalhando que é uma forma de anular as eleições. Mas o
anúncio da possível nulidade do pleito é equivocado.
De
acordo com a legislação, vence as eleições quem obtém a maioria dos
votos válidos (50% mais um). Num cenário com apenas um candidato,
qualquer quantidade de votos é suficiente. Se o postulante à prefeitura
receber o apoio de apenas um eleitor, terá 100% dos votos válidos. Só
há uma possibilidade de nova disputa: caso a Justiça eleitoral anule os
votos do único concorrente por infrações à legislação, como compra de
votos.
Das
acirradas disputas nas corridas municipais, a população de Igaratinga
vive agora uma calmaria eleitoral que, longe de alívio, é recebida com
um bocado de desconfiança. Mesmo quem declara voto em Fábio Fonseca
“até se houvesse outro candidato” se confunde e diz que preferia ter
mais opção no pleito.
—
Ah, votar, eu ia votar no Fábio mesmo. Mas bem que queria uma disputa.
Nem parece que vai ter eleição! — observa o aposentado Antônio
Henrique da Silva, de 72, anos.
Com
o sorriso da vitória, o prefeito também garante que gostaria de ter um
concorrente, mas não esconde que terá vida, inclusive financeira, mais
tranquila do que candidatos que se engalfinham em cidades vizinhas.
Apesar de ter os dois pés na prefeitura por mais quatro anos, Fonseca
diz que vai fazer campanha e tem justificativa para ir ao eleitor:
—
Se eu for eleito com poucos votos, não terei credibilidade junto à
população para fazer uma boa gestão e para ir aos governos estadual e
federal para pedir recursos para a cidade.
O
pedido por voto sairá mais barato do que previa até o início do mês,
quando ainda achava que teria um concorrente. De R$ 150 mil, sua
previsão de gasto recuou para R$ 50 mil. Por lá, os opositores
desistiram do pleito após obterem má colocação em pesquisas.
Ironicamente, o maior opositor do prefeito que não tem concorrentes nas
urnas é um vereador do próprio partido.
—
Vou fazer campanha só se for para ele perder. Se não conseguir mais da
metade dos votos, está fora. Ele acabou com a educação da cidade —
reclama Ademar Pinto de Faria (PDT).
O
prefeito diz que a “implicância” de Faria é fruto de divergência
pessoal, já que não teria entrado num rateio para que o vereador
pudesse levar mais convidados a sua diplomação.
Município gaúcho não tem disputa desde 2000
Em
Mato Queimado, no noroeste do Rio Grande do Sul, município com apenas
16 anos de existência, nunca houve uma disputa eleitoral para a
prefeitura. Desde 2000, ano da sua primeira eleição municipal, os
eleitores locais não tiveram a oportunidade de escolher entre um ou
outro candidato.
O
prefeito Orcelei Dalla Barba, do PMDB, explica que a cidade tem um
modelo político singular, já que são as lideranças políticas dos quatro
partidos locais (PT, PMDB, PTB e PP) que decidem quem vai governar.
A
cidade também nunca contou com candidato de oposição na disputa pelas
nove cadeiras da Câmara Municipal. As vagas para a Câmara dos
Vereadores sempre são disputadas sob uma coligação única, com a
participação dos quatro partidos. O prefeito da cidade, Orcelei Dalla
Barba, explica que o processo de escolha do candidato único está aberto
à população e que a participação do eleitorado é considerada boa. Em
2008, apenas 8% dos eleitores deixaram de votar, enquanto 10% votaram
nulo ou em branco.
—
Esta já é a quarta eleição que acontece de maneira consensual, sem
rivalidade política, com respeito mútuo entre os partidos e
comparecimento dos nossos eleitores às urnas — disse o prefeito.
Outra
cidade já acostumada com a falta de disputa é Caibi (SC), onde pela
terceira vez verá apenas uma foto nas urnas eletrônicas. Depois de oito
anos como vice-prefeito, Dilair Menin (PT) disputa a prefeitura do
município de 6,2 mil habitantes com a certeza da vitória:
—
Em cidade pequena, as eleições são muito acirradas. Os ânimos ficam
exaltados. Então, é até bom não ter concorrente. Mas não deixarei de
fazer campanha. Aqui é regra: tem de bater de casa em casa e tomar
chimarrão com a família para que não se sinta desprestigiada.
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