O roteiro seria: Bom Jesus da Lapa, Riacho de Santana, Botuporã, Tanque Novo, Paramirim e Livramento.
A irrigação em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, entrou em colapso, não por causa da seca, mas pelo uso abusivo da água. A previsão é de perda total das safras de fruticultura de 2013 e, em prazo maior, a morte da Barragem Luiz Vieira e do Rio Brumado, trazendo dificuldades para o abastecimento humano.
Em meio a essa crise inédita, o engenheiro Gutenberg Carneiro, um dos grandes produtores da região, apresenta uma sugestão que poderá vir a ser a solução definitiva para o problema. Trata-se da adução de água do Rio São Francisco, a uma distância de 220 km, pela margem das rodovias.
Ainda segundo as informações do site Mandacaru da Serra, ele sugere o roteiro Bom Jesus da Lapa (captação), Riacho de Santana, Botuporã, Tanque Novo, Paramirim e Livramento (recepção). O duto, de um metro de diâmetro, passaria pela faixa de domínio das rodovias, reduzindo o impacto ambiental e evitando despesas com indenizações.
Acrescenta que seria uma obra até singela, cuja dificuldade maior seria vencer a distância. O aclive (38m) entre captação (430m) e chegada (468m) seria compensável com, no máximo, seis estações elevatórias de porte simples.
A obra poderá ser realizada pelo sistema de Parceria Público- Privada, em que o Estado e o setor privado se juntam, mediante contrato específico, para viabilizar obras de relevante interesse público. Segundo o engenheiro, a construção duraria o máximo de 18 meses.
Segundo Gutenberg Carneiro, a obra deverá custar R$400 milhões, a preço de hoje, e os recursos poderão vir de financiamento público. Os produtores teriam prazo de até 30 anos para quitar sua cota, ao custo de R$50,00 mensais, por cada hectare. Estaria, assim, ao alcance de grandes e pequenos agricultores.
O engenheiro está empenhado em convencer produtores, formadores de opinião e outros segmentos da comunidade sobre a utilidade desse projeto. Suas principais dificuldades são descrença de pelo menos metade do próprio setor, baixa representatividade política do município e indiferença e dificuldade da população em entender o alcance do empreendimento.
Na bitola citada, a adutora teria vazão aproximada de quase 10 m³ por segundo, suficiente para irrigar de 20 mil a 30 mil hectares, permitindo dobrar a área plantada, em Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio.
O ponto de despejo seria a 40 km do eixo da Barragem do Rio do Paulo, que fica entre Livramento e Dom Basílio, podendo haver derivações para o canal de irrigação do DNOCS, para atendimento do Perímetro Irrigado Brumado.
A Barragem Luis Vieira, que armazena 105 milhões de m³, destina-se a irrigar 5.000 ha e a do Paulo, com capacidade para 53 milhões de m³, destina-se a suprir 1.500 ha. Porém, a área plantada, em Livramento e Dom Basílio, é estimada em 15 mil ha. O déficit de água, portanto, gira em torno de 56%.
A adutora proposta por Gutenberg Carneiro cobriria toda essa demanda e ainda possibilitaria dobrar a área de cultivo. Os atuais mananciais poderiam permanecer secos ou servirem de reservas e outras finalidades, como reviver os rios Brumado e Rio Taquari.
Foto: Mandacaru da Serra.
Jornalista critica extrema pobreza, apesar da produção agrícola.O Jornalista Raimundo Marinho, proprietário do site “Mandacaru da Serra”, abriu espaço em seu veículo de comunicação para que o engenheiro pudesse expor suas ideias, porém, criticou o modelo de produção agrícola implantado no município de Livramento de Nossa Senhora e região:
O Mandacaru abriu espaço para a pregação do engenheiro, pela magnitude da obra, mas alerta para os aspectos subjacentes que a envolvem. Por exemplo, até hoje é irrelevante ou nenhuma a contribuição dos produtores agrícolas locais para reduzir a extrema pobreza no município.
É notória a ação predatória do segmento, contaminando o meio ambiente com agrotóxicos, poluindo e secando os recursos hídricos, do que é exemplo a atual crise no abastecimento de água. Os trabalhadores do setor não recebem o salário mínimo e não têm acesso a benefícios sociais e previdenciários.
A cultura da manga em Livramento e Dom Basílio fatura algo em torno de R$1 bilhão por ano, sem uma contrapartida proporcional para a comunidade. Esta fica somente com a conta resultante dos efeitos nocivos da atividade.
Assim, faz-se necessário examinar com profundidade e muita cautela a proposta do engenheiro, ainda que se apresente como o único meio de dar sustentabilidade à economia do município. Não pode ser esquecida, de jeito nenhum, a função social da iniciativa empresarial.
A ampliação do cultivo implicará, também, o aumento, na mesma proporção ou mais, da ação predatória e seus efeitos nocivos, exigindo que a fiscalização seja rigorosa e que, principalmente nos contratos de PPP, sejam incluídas cláusulas de cumprimento da função social dos empreendedores.
Impõe-se, entre outras coisas, a exigência de clausulas de contribuição para um fundo municipal, por exemplo, que poderia ser de, pelo menos, 1% sobre o faturamento anual. Além, claro, do cumprimento da lei trabalhista e das regras de preservação ambiental e de proteção à saúde pública.